Opinion published (in Portuguese) on the national newspaper Diário de Notícias where I defend the need that the discovery and manufacture of innovative Molecular Diagnostics (In Vitro Diagnostics Medical Devices) should be a priority for academia, Government and Investors, considering the current landscape of R&D and Investment capability. I believe that focusing on this sector could fuel a series of quick wins, create specialised and high value jobs and boost our our economy within the timeframe of a single legislature.
Vamos construir uma fileira industrial inovadora no diagnóstico molecular?
O sector das tecnologias da saúde é um sector fortemente dependente de inovação e tecnologia, que gera grande valor acrescentado por trabalhador, e emprego especializado. Países que investiram neste sector têm hoje fileiras industriais exportadoras relevantes – $45B em dispositivos médicos em 2019 nos EUA (trade.gov), €28B e €25B em 2020 pela Alemanha e Países Baixos, respetivamente (statista.com). Infelizmente, na sua componente de manufatura ou de inovação, o impacto das tecnologias médicas é vestigial no nosso país (HCC, 2021). Quando a pandemia nos visitou, esta nossa incapacidade de inovar e produzir foram por demais aparentes. Expôs-nos às muitas falhas nas nossas cadeias de abastecimento que nos deixaram reféns de outros países, nem sempre os mais confiáveis, quando tanto precisávamos de tudo, desde máscaras, a ventiladores, a testes de PCR.
Nesta breve reflecção vou apenas centrar-me numa área específica dentro da tecnologia médica, que é a dos dispositivos médicos de diagnóstico in vitro, vulgo análises clínicas. Cerca de 70% das decisões médicas são baseadas nestas: desde os testes de sangue de rotina, aos PCRs para detetar o SARS-CoV-2, às análises genómicas em cancro. Este sector representa cerca de 14% do impacto de toda a tecnologia médica (Medtech Europe), e observa uma franca expansão associada aos modelos emergentes da medicina de precisão. Este é um mercado maduro, com testes bioquímicos e moleculares usados rotineiramente na clínica, e ao mesmo tempo um mercado dominado pela inovação, com novos productos a serem desenvolvidos, validados e comercializados, com ciclos de vida relativamente curtos. Esta última característica representa uma oportunidade para pequenas empresas, muitas vezes spin offs de centros de investigação, conseguirem ser competitivas.
A inovação no diagnóstico está associada a cadeias de valor complexas, com manufatura de componentes especializados, químicos, biológicos, plásticos, etc. Tem por outro lado um potencial impacto muito mais lato, pois estes mesmos componentes ou produtos finais têm aplicações na área da defesa biológica que as autocracias do momento tornam cada vez mais relevantes, nas ferramentas de monitorização ambiental, nas soluções para análises alimentares, não esquecendo todo o ecossistema de investigação e desenvolvimento que consome enormes quantidades destes mesmos componentes e produtos.
Portugal não é um actor relevante na cadeia de valor do diagnóstico in vitro. Não gera inovação nem tem capacidade significativa de produção de componentes ou produtos acabados. Porquê então insistir neste tema? Porque Portugal tem excelentes centros clínicos e de investigação biomédica a operar na vanguarda da medicina, resultado de décadas de investimento público. Porque forma um grande número de licenciados, mestres e doutores em vários aspetos das ciências da vida e engenharia, que pouco e fraco emprego encontram em Portugal. Em suma, temos a matéria prima excelente para sermos actores relevantes deste sector. No entanto, esta excelência raramente se traduz em novos serviços e produtos; também falhámos na atração de manufatura ou I&D de empresas desta área.
Eu escolhi trabalhar neste sector em Portugal e a minha empresa, a Ophiomics, acaba de lançar o seu primeiro produto para o mercado global. Mas somos ainda muito poucos e sem concertação de esforços de vários actores, dificilmente conseguiremos dar o salto que torne os dispositivos médicos de diagnóstico in vitro uma componente importante das nossas exportações. Nem tornaremos Portugal parte da solução da independência das cadeias de abastecimento Europeias, num sector cuja fragilidade a pandemia recente tratou de nos mostrar. A P-Bio, Associação Portuguesa de Bioindústrias, propôs uma agenda de desenvolvimento que queremos que seja um ponto de partida para criar uma fileira inovadora e produtiva na área do diagnóstico in vitro em Portugal. Vamos?